segunda-feira, dezembro 18, 2006

Puzzle

Autor da foto: Carlos Neto
(Publicado)

Na mesma paz...

autor da foto: Pedro Moura Pinheiro

Porque aqui se vive na mesma paz que dentro de um aquário. Tão relaxante de observar, movimentado, e sempre em andamento, mas sempre inspirando a mesma calma...Vive-se tão bem como dentro dessa imagem, num continuo e calmo deslocamento, sem querer parar.

Flutuando entre o sonho e a realidade, que mais parece um sonho. Então vive-se como num sonho, vivendo o dia de hoje, querendo que o dia de amanhã seja exactamente igual ou melhor.

Flutuando na felicidade de um aquário só nosso, partilhando a sorte de termos guelras, e capacidade de divagar e sonhar sem limites ou direcção. Um lugar criado por nós e para nós com tudo o que precisamos, com todo o espaço suficiente para nadar e sermos livres, mas ao mesmo tempo ter sempre a jeito o que precisamos. Porque nadar em alto mar se aqui temos tudo o que precisamos?

Aqui vive-se sem pés no chão. Mas afinal, alguém disse que os peixes tinham pés?

sexta-feira, novembro 24, 2006

"Wake up and smell the coffee"


"...Que tem a perder?
A sua alma?
Que diabo!
Quando foi a última vez que você soube que tinha uma?..."

De: Eric Bogosian
Com:
Tiago Rodrigues
Encenação: Luís Mestre
23 de Novembro a 16 de Dezembro, de 5ª a Sábado, 22h

Teatro Maria Matos

quinta-feira, novembro 09, 2006

O Fim

Ontem julguei ter visto a luz
Nas horas brancas conduzi o despertar

E fui subindo a escada
Que me separa do meu fim

Abandonei quem já passou
Fechei os olhos e previ o que encontrei
E foi nesta viagem
Que percebi que não estou só.

Jorge Palma

quinta-feira, setembro 07, 2006

Gostar é...

Gostar é sentir a falta, passar a ter um complemento, é perder a noção do tempo, é espontâneo, é descobrir sempre coisas novas, é gostar sempre. Gostar de fazer coisas que parecem insignificantes mas que para nós fazem todo o sentido, perder a noção que existe um mundo à nossa volta, é apoiar sempre.

Gostar é divertido, é pensar nisso a todos os momentos, é fazer alguém feliz e é estar feliz. Gostar é partilhar, sermos nós próprios, e alguém gostar de nós assim como somos. Gostar é respeitar, é apreciar, é dar valor.

Gostar é evoluir, é nos preencher e nos tornar uma pessoa melhor, é querer aproveitar cada minuto junto como se não houvesse amanhã. Gostar é não precisar de mais nada, é dar uma prenda sem razão só para fazer alguém feliz. Gostar é evoluir, é alguém nos fazer todo o sentido, cada dia mais que o anterior.

Gostar é sentir, é tudo o resto parar de fazer sentido, é exibir um sorriso de orelha a orelha desde de manhã até à noite. Gostar é fazer planos, planear um futuro.

Gostar é sonhar…

domingo, abril 30, 2006

From: Rita

Legenda: Denis, Breno, Iago e Hevi

"No Rio de Janeiro, três meses, numa favela chamada ironicamente, ou não, Final Feliz...Porque há sempre lugares para sonhar.

Porque o melhor dos mundos é o mundos dos afectos. Porque o verdadeiro milagre de Deus é simples: quanto mais partilhamos mais temos. A simplicidade de um sorriso vence dores e silêncios magoados. Quanto mais damos mais recebemos, compreendo agora que aqu
i não ensino, aprendo. Aprendemos na simplicidade, na generosidade, na luz de quem acredita que a alegria é possível...mesmo nos rostos mais fechados de crianças que sabem que sonhar é provavelmente só para os outros. Crianças feridas não só por fora, mas por dentro. Morro e vivo aqui todos os dias, cada dia, num tempo que se multiplica infinitamente. Sou daqui. Sou feliz aqui...mesmo quando vejo queimaduras nas mãos da minha Ingrid ou buracos fundos de pregos nas pernas da minha Hevi, sou feliz de lágrimas nos olhos, acreditando que cada dia posso fazer nascer um sorriso novo, de esperança, de quem acredita que a alma sempre pode ser descoberta numa espécie de milagre... É qualquer coisa que não é da ordem do dizível que aqui me dói, não é sequer a alma, mas algo como as entranhas, a carne, um arrepio de uma dor que é na verdade uma sensação nova. "Como te magoaste?" "Um prego em casa, tia...", ou simplesmente um baixar de olhos quase envergonhado pela dor de quem não tem culpa... Sempre um prego. Impossível. É o coração que a Ingrid hipoteca na mão e é o coração que a Hevi exibe no pé, obviamente. Um coração com pregos. Evidentemente.

Escapa-me qualquer coisa neste mundo novo... a alegria infantil, à maneira de Pascoaes, fica reduzida nestes rostos a uma espécie de alegria desesperançada, ingénua mas não feliz. Como se houvesse um outro lado desta cidade e eu estivesse lá... fora mesmo que dentro.

O Rio não é um lugar para viver, é um lugar para
sentir. Para mim não é sequer propriamente uma escolha, é uma necessidade decidida. Deixo bocados de mim pelo morro sujo que subo com o coração todos os dias, debaixo de um sol sem generosidade nenhuma, descobrindo que a pobreza também tem cheiro, vendo pés descalços e sujos de quem sabe que atrás de si aparece um abraço gritando "Tia" em redor da minha cintura... "Tia, volta amanhã, não volta?" Volto. Mesmo que não apareça jamais partirei daqui. Há coisas que passam, outras não. Ficam como alicerces de tudo o que somos e podemos vir a ser... Sonhos resgatados num coração que se completa no sul do mundo!"

Rita Brandão Guerra



sábado, abril 29, 2006

"A Princesa que acreditava em contos de fadas"

"(...) -Há coisas que os olhos não podem completar- disse Doc
-Que tipo de coisas? Coisas como desejar que os sonhos se tornem realidade?
-Se desejas tornar os sonhos realidade, porque é que todo o teu desejo não livrou o príncipe do mau feitiço?
-Como sabes disso?
-Disse-me um passarinho. Na realidade, disse-mo um bando dos teus amigos de penas. Vieram consultar-me quando paraste de cantar as tuas canções. Os seus corações estavam tão pesados que mal os deixavam voar.
- Sim, sei o que isso é...quer dizer, a parte do coração pesado- suspirou a princesa.- Se, ao menos, conseguisse descobrir uma maneira de livrar o príncipe do mau feitiço, então seria feliz e cantaria de novo com os pássaros e tudo estaria certo no mundo. Tens que me ajudar, Doc. Tentei de tudo. Nada resulta.
- É verdade, princesa. Nada resulta.
- Pensei que, certamente, saberias de algo. Algo em que eu não pensei.
- Eu realmente sei de algo. É nada.
-Nada?
- Sim, nada.
Vitória franziu a testa enquanto pensava no que Doc dissera.- Não fazer nada?
- Sim, princesa. Nada é algo que ainda não tentaste. Deves parar de fazer tudo e começar a não fazer nada. Não faças nada e não digas nada. Não dês explicações, não te defendas, não ponhas tudo em ordem, não peças, não te desculpes, não ameaces, não te preocupes, não fiques acordada de noite a pensar e planear e a refletir. Percebes a ideia?
- Não posso simplesmente fazer nada!
- Se não fizeres nada, estarás na verdade, a fazer algo- algo que ajudará o príncipe tirando-te do seu caminho.
-Isso não é muito bonito de dizer!- respodeu a princesa, indignadamente.- Como é que estou no caminho dele? Estou só a tentar ajudá-lo.
- Desculpa-me, princesa. Não tencionava ofender-te. Mas o príncipe está demasiado ocupado a ver o que está errado em ti para ver o que está errado nele. Se não fizeres nada, é mais provável que compreenda que ele está a fazer algo. (...)"

Marcia Grad in "A Princesa que acreditava em contos de fadas"

To: Rita


Uma homenagem à minha Rita! Porque está longe há pouco mais de um mês e já me parece um século, 3 meses às vezes parecem que passam num instante, mas nestas situações passam muito devagarinho. Há dias entrei sozinha na Zara da Guerra Junqueiro, e parecia que ouvia atrás de mim a vozinha estridente e os comentários únicos da minha "tiazinha" loira de 1,55m saltitando numas cunhas gigantes, com uma bolsinha no braço! ;) Está lamechas, eu sei, ela não imigrou, foi fazer "caridade" para o Rio, não Rio Tejo! Rio de Janeiro! Não poderia deixar de enaltecer a coragem desta miúda de se meter numa favela durante um dia inteiro ensinando meninos. Rumou sozinha para o outro lado do Atlântico, à aventura, sem conhecer nada nem ninguém.

Só mesmo tu Rita! Porque és diferente de toda a gente que conheço, nunca tinha conhecido ninguém com uma segurança e sentido de humor como o teu! Desde aquele Rally em que arrastei a minha nova amiga loira, a cubana afilhada da minha mãe, recém chegada à ilha para o casamento da filha mais velha da madrinha. Rita com seus kedds brancos, no meio dos arbustos pulando vedações para ver uns carros barulhentos a passar, às 8h da manhã depois de 3 horas de sono, um frio de rachar (em Agosto) com um bando de madeirenses que falavam estranho! Surreal confessa! :) Pior foi quando levamos a "Cubana" a tomar pequeno almoço e todos pediram uma chinesa e um bolo do caco! Coitadinha!!! Uma "Cubana" sofre!!! :)

Meu amor volta que estás perdoada! Deixa os meninos da favela, e ainda mais importante é que não tragas nenhum para casa, já disse que primeiro filho, e afilhado meu, claro, tem que ser de raça pura ariana assim como tu, um puto loiro com a personalidade da mãe! Espero que estejas a seguir os conselhos aqui da amiga, sempre de catana para a favela. Garanti isso às nossas mães para andarem mais descansadas, mas mesmo assim vão as duas rumar a Fátima dia 13. Lá vão aquelas duas para meio da multidão, para o lar de freiras em que vão ter que compartilhar a WC com mais algumas, acender uma velinha para a menina que se meteu na favela, e para a outra a ver se o curso não dura 10 anos.

Aguento-me à tua ausência porque o que estás a fazer faz-me admirar-te ainda mais. Fascinas-me mais a cada ano que passa! Mesmo assim digo-te...Ninguém merece! Que dia 20 de Junho chegue depressa!