“Devemos ter muito cuidado quando apontamos o dedo, porque nunca podemos esquecer que nesse momento temos 3 dedos a apontar para nós”
Sabemos tão bem corrigir, emendar, criticar, julgar comportamentos alheios, mas poucas vezes paramos para pensar que por vezes fazemos o mesmo…ou pior, ou o mesmo mas de outra maneira.
Quantas vezes não estamos a ouvir alguém se queixar deste, daquele, do outro, do que fizeram, fazem e estamos a pensar para nós: "Mas...tu fazes exactamente o mesmo!"
“Olho para esta mulher e aquilo que me vem à cabeça é que
Algumas pessoas fazem o melhor que podem com aquilo que lhes é dado.
Conheci a Joana Homem da Costa há cerca de 3 anos, no dia em que chegou até mim com o firme propósito de tirar de dentro de si aquilo que lhe estava causar incómodo. Falámos durante muito, muito tempo, sobre estes incómodos, que se reflectiam nas situações do dia a dia e, sobretudo nos relacionamentos. Falámos muito tempo nos outros. O grande problema da humanidade: os outros.
E a Joana descreve brilhantemente esse tema num dos seus textos, Os outros. Aqueles que, supostamente, têm culpa de não nos sentirmos como gostaríamos de nos sentir. Desse texto, fica a sua frase: Porque o mais difícil é pensar que o que está constantemente a nos pôr em causa, somos nós mesmos.
A Joana, no seu livro, descreve este acontecimento de uma forma mais bonita do que eu, mas farei também o meu melhor. Um dia, pedi-lhe que escrevesse uma carta para alguém, onde colocasse tudo aquilo que pensava, sentia, tudo o que não tinha dito e gostaria de dizer. Falávamos horas a fio sobre aquilo, ela fazia monólogos consigo mesma, expressava a raiva e a insegurança, os medos, as tristezas. “A minha mente não pára, estou sempre a pensar no que foi, no que é, no que poderia ter sido, naquilo que pode vir a ser. E a encontrar forma de planear e estruturar tudo.”
Olhou-me de uma forma estranha, após o pedido, balbuciando um “vou tentar”, isto porque, apesar de pertencer a uma família de pessoas ligadas às letras, não era algo para que tivesse muito jeito. “Sou muito confusa”,disse-me.
Uma semana depois chegou com vinte folhas escritas, folhas essas que não precisámos de ler. Ficámos estupefactas, ambas. Eu, porque não me parecia que alguém que não gostava de escrever, porque não tinha jeito, escrevesse 20 folhas de uma carta que nunca seria enviada. Ela porque “não sabia que tinha tanto para dizer…” E descobria o alívio e a solução para colocar para fora aquilo que a incomodava. Escrever sobre isso.
“Descobri que quando saí cá para fora é mais fácil, e me organizo melhor.”
E depois a Joana começou a escrever.
Alguns anos depois surge de uma deambulação intensa sobre si mesma, de uma mente acutilante e ousada. De uma coragem da autora se por em causa e de colocar tudo em causa. Ela não se nega, não se subtrai das situações que a vida lhe trás, mas experiencia-se, questiona-se sobre o mundo, sobre o porque é que as coisas são o que são, como são. Sobre as regras que nos impomos e porque será errado mudá-las.
As metáforas que usa são-nos comuns, conseguimos olhá-las, identificar-nos com cada experiência, reflectir sobre as pequenas mudanças que nos recusamos a fazer, para não sairmos da nossa zona de conforto.
Diz a autora:
Fiz a cama, arrumei os armários por cores porque me organizo assim, é assim que eu sou, faz parte de mim, mas de vez em quando ainda coloco uma peça de roupa verde no meio das vermelhas só para ver o efeito.
Ao longo dos textos com que nos presenteia, podemos nem sempre concordar com ela, mas não podemos negar que nos toca, nos choca, nos ajuda a por em causa, nos faz questões que poucas pessoas nos fariam. “Há quanto tempo não pensas?”
É com uma ponta de sarcasmo que nos fala da sociedade em que nos movemos, das relações que construímos e, mais uma vez, dos outros, aqueles a quem podemos sempre culpar se algo não dá certo.
É com simplicidade e sensibilidade que descreve a vivência de uma noiva a preparar o casamento, a relação com uma criança de sete anos ou faz uma declaração de amor apaixonada.
Existem alguns textos que nos perturbam, que nos falam das viagens ao inferno, das travessias no deserto. Dos medos, das inseguranças, da solidão, da sombra que nos habita. Expõe-se sem medo, acreditando sempre que o diálogo, a ausência de assuntos tabus é o melhor meio de encontrar o amor. Amor-próprio, amor romântico, amor por si só.
Leio o livro, e não me parece que a Joana ainda procure desenvencilhar-se daquilo que a incomoda. Percebo que utiliza esse material como uma fonte de auto-conhecimento, de crescimento e criatividade. Que descobriu que não somos feitos apenas de saquinhos de bem-estar, mas que luz e sombra se completam, quando temos coragem de nos aceitar como seres inteiros que somos. E que a realização vem daí, de fazermos o melhor de nós, com aquilo que somos em cada momento.
Os textos da Joana fazem-nos sentir isso. Que não faz mal sermos quem somos, que ganhar ou perder são faces da mesma moeda.
Termino com as suas palavras, de mais um dos textos.
Esquecemo-nos que na vida às vezes não estávamos preparados para ganhar, e isso fez-nos perder.O principal é pensar que quiseste aquele troféu como nunca quiseste mais nada na vida, que lutaste por ele da melhor maneira que sabias, com o material que te foi fornecido, e nas condições em que te encontravas na altura da competição, quem levou o troféu não foste tu, mas quem disse que não és um vencedor?
Quem disse que teres perdido esse troféu não foi o caminho necessário para ganhares tantos outros?
Estás aqui, és uma vencedora. Este é verdadeiramente o teu troféu. Parabéns!!!”
Élia Gonçalves (Apresentação do livro “Alguns anos depois…” no Onda Jazz em Lisboa)
Quando a nossa inspiração não anda a nos acompanhar lado a lado, conseguimos sempre encontrar quem diga por suas palavras coisas tão nossas.
Mensagem Maria Bethânia
(...)Quanto a mim o amor passou Eu só lhe peço que não faça como gente vulgar E não me volte a cara quando passa por si Nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor Fiquemos um perante o outro Como dois conhecidos desde a infância Que se amaram um pouco quando meninos Embora na vida adulta sigam outras afeições Conserva-nos, caminho da alma, a memória de seu amor antigo e inútil
Quem já passou por essa vida e não viveu Pode ser mais, mas sabe menos do que eu Porque a vida só se dá pra quem se deu Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não Não há mal pior do que a descrença Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair Pra que somar se a gente pode dividir Eu francamente já não quero nem saber De quem não vai porque tem medo de sofrer Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
"(...)I want love on my own terms After everything I've ever learned Me, I carry too much baggage Oh man I've seen so much traffic
But I want love, just a different kind I want love, won't break me down Won't brick me up, won't fence me in I want a love, that don't mean a thing That's the love I want, I want love
So bring it on, I've been bruised Don't give me love that's clean and smooth I'm ready for the rougher stuff No sweet romance, I've had enough (...)"
“Aos vinte e um anos eu tinha tirado tirado o sétimo ano, tinha estado quatro anos em Engenharia, também não queria muito ser engenheiro, mas era melhor ser engenheiro do que não ser”
Inteligência emocional é um conjunto específico de aptidões utilizadas no processamento e conhecimento das informações relacionadas à emoção. Na história da psicologia moderna o termo “inteligência emocional” expressa um estágio na evolução do pensamento humano: a capacidade de sentir, entender, controlar e modificar o estado emocional próprio ou de outra pessoa de forma organizada.
Over the sea and far away She's waiting like an iceberg Waiting to change But she's cold inside She wants to be like the water
All the muscles tighten in her face Buries her soul in one embrace They're one and the same Just like water
The fire fades away Most of everyday Is full of tired excuses But it's too hard to say I wish it were simple But we give up easily You're close enough to see that You're the other side of the world to me
On comes the panic light Holding on with fingers and feelings alike But the time has come To move along (…)
Can you help me Can you let me go And can you still love me When you can't see me anymore
And the fire fades away Most of everyday Is full of tired excuses But it's too hard to say I wish it were simple But we give up easily You're close enough to see that You're the other side of the world
Oh, the other side of the world You're the other side of the world to me
Porque na alegria interessa a melodia, o ritmo, a batida, mas na tristeza o que interessa é a letra, e só assim uma música fica completa…
Insensatez Tom Jobim Composição: Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes
A insensatez que você fez Coração mais sem cuidado Fez chorar de dor O seu amor Um amor tão delicado Ah, porque você foi fraco assim Assim tão desalmado Ah, meu coração quem nunca amou Não merece ser amado
Vai meu coração ouve a razão Usa só sinceridade Quem semeia vento, diz a razão Colhe sempre tempestade Vai, meu coração pede perdão Perdão apaixonado Vai porque quem não Pede perdão Não é nunca perdoado
Alguns pensamentos, momentos, sentimentos. Algumas dúvidas, questões, ilusões. Alguns anos depois o que mudou o que ficou igual, como tudo está.
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