terça-feira, março 10, 2009

O Meu Cão Dourado!





Tinha um “black dog”, mas um “black dog” daqueles que parece que nos persegue a todas as horas do dia, um “black dog” que foi aparecendo aos poucos, por inúmeros motivos e me deixou assim, acompanhada por um “black dog”.
O “black dog” aos poucos parou de estar sempre presente, era por fases, às vezes estava presente, mas volta e meia voltava, ocupava um lugar em mim e não me deixava ver mais nada, impossibilitava-me de ver o bom da vida e preencheu em mim uma névoa pessimista.
Comecei a conseguir manda o “black dog” dar uma volta ao bairro de vez em quando, deixava a porta aberta e mandava-o embora, ele partia mas voltava, até um certo dia em que tudo mudou.
Um dia mandei o “black dog” dar uma volta pelo bairro e enquanto aproveitava os momentos em que ele não estava presente um cão dourado entrou-me pela porta de casa e subiu a rampa. Um verdadeiro cão dourado, solitário, com manchas de óleo no pêlo e um ar perdido.
O cão dourado sentou-se ao pé de mim, pediu umas festas no focinho para compensar ter sido enxotado por uma vassoura da casa da vizinha. Ali ficámos os dois, sentados, com o mesmo ar perdido. Olhei para ele e disse-lhe que tinha mesmo ar de Jorge, e tinha, ele retribuiu o olhar e fitou-me de língua de fora.
Primeiro pensei que aquele cão dourado não era meu e devia ter o seu dono, de certeza, o meu cão era preto, um “black dog”, não fazia companhia nem olhava para mim com aquela expressão. Por isso mesmo mandei o Jorge seguir o seu caminho, disse-lhe que voltasse para o seu dono mas ele ali ficou, dia após dia acordava, abria a porta e lá estava o cão dourado com cara de Jorge a olhar para mim.
O Jorge tinha uma coleira gasta e que mostrava que vivia algures amarrado, uma coleira de pulgas e não preferia ir para nenhum lugar senão estar ali. O Jorge passeava pelo bairro mas voltava sempre, sempre para mim, chegava contente por me ver e sentava-se ao meu lado, focinho no meu colo.
O “black dog” nunca mais voltou, e quando entra em mim um pouco de solidão, descontentamento olho para o Jorge e lembro-me que se ele se salvou, conseguiu encontrar o seu rumo depois de se perder, conseguiu encontrar um porto de abrigo depois de ter sido abandonado, conseguiu ser feliz depois de ser enxotado e desprezado, tudo é possível. Todos podemos trocar um “black dog” por um Jorge, o cão dourado.

6 comentários:

Vera disse...

Vês? A inspiração voltou. No seu melhor :)
Bjs

Lita disse...

Lindo!!!!
Perfeito, again...

MEHC disse...

Maravilha, ela voltou, e logo hoje!!!!! O cão dourado faz maravilhas. Marece muitas, mas muitas festinhas.

ઇઉ Aralis ઇઉ disse...

Adorei...
Mas admito chorei... perdi o meu amigo ontem 13/03..
Obrigada pela leitura.

bj

Rubi disse...

As fotos estão lindas. Parece que o pano de fundo é a minha terra :)

as velas ardem ate ao fim disse...

Um cão faz maravilhas!

um bjo